TJ-SP vê ‘comportamento provocativo’ de advogado e rejeita queixa contra juiz

TJ-SP vê ‘comportamento provocativo’ de advogado e rejeita queixa contra juiz

Nos crimes contra a honra, exige-se que o réu tenha agido com dolo de dano, a livre vontade de causar dano à reputação ou à imagem da vítima. Ausente o dolo específico, elemento subjetivo do crime, verifica-se a atipicidade da conduta.

O entendimento é do Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo ao rejeitar uma queixa-crime apresentada por um advogado contra um juiz da Comarca de Tambaú, acusado por crimes de difamação e injúria durante uma audiência de um processo criminal.

O advogado alegou ter sido ofendido pelo magistrado, que teria criticado sua atuação na defesa dos réus na audiência. Mas, para o relator, desembargador Moacir Peres, “saltou aos olhos” a atipicidade das condutas imputadas ao juiz e, com base em parecer da Procuradoria-Geral de Justiça, ele determinou o arquivamento dos autos.

“O querelado apresentou diversos documentos que dão conta do hábito cultivado pelo querelante de proferir ofensas ao Poder Judiciário e aos seus membros, mormente quando não obtém sucesso em seus peticionamentos, razão pela qual, inclusive, ajuizou diversas ações indenizatórias contra a Fazenda do Estado. O advogado já foi, ademais, condenado em primeiro grau por crime de desacato praticado contra o querelado“, afirmou.

Na opinião do relator, o “comportamento provocativo” do advogado ficou claro no vídeo da audiência, que foi anexado aos autos. Por essa razão, explicou o magistrado, considerando a tensão da ocasião, não se poderia exigir do magistrado, a quem cabe zelar pela regular condução do ato processual, serenidade e cortesia.

“Como todos nós, o magistrado é um ser humano, que se ofende quando é atacado, que se irrita quando é provocado e que, em situações extremas, perde a paciência quando se depara com comportamentos inconvenientes. Obviamente, nessas situações, quando o magistrado acaba sendo indelicado, proferindo expressão grosseira, que em situação de normalidade jamais seria externada, não se pode atribuir a tal conduta o escopo de profanar a honra daquele que a deu causa”, diz o acórdão, citando trecho do parecer da Procuradoria.

Portanto, para o relator, não se verificou na conduta do magistrado a intenção de ofender a honra do advogado, elemento essencial à configuração dos crimes de difamação e injúria: “Assim, dada a atipicidade dos fatos imputados ao querelado, verifica-se a ausência de justa causa para o exercício da ação penal, razão pela qual deve a presente queixa-crime ser rejeitada”.

Peres acolheu sugestão de colegas do Órgão Especial para majorar de R$ 1 mil para R$ 5 mil os honorários ao advogado do juiz, observando “o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado e o tempo exigido para o serviço”. A decisão foi por unanimidade.

Fonte: Conjur

Leia mais

STJ: Mulher vítima de agressões domésticas reiteradas sofre danos que vão além do tipo penal do crime

STJ reconhece que a reiteração das agressões e o trauma psicológico justificam o aumento da pena-base por refletirem maior reprovabilidade da conduta e consequências...

Estado não pode ser cobrado por promoções de servidor já aposentado, define Justiça

Na prática, a decisão expõe a existência de uma verdadeira ‘cortina’ que separa as obrigações financeiras do Estado: de um lado, o ente público...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

Castro e Moraes discutem operação e retomada de territórios no Rio

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, reuniu-se nessa segunda-feira (3), com o ministro do Supremo Tribunal Federal...

Adepol aciona STF contra lei do Rio que impede delegados de chefiar forças de policiamento ostensivo

A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol) ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 7895) no Supremo...

STF: Minas Gerais não foi omissa na criação da Polícia Penal

O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que não houve omissão do governo de Minas Gerais na instituição da Polícia...

Condomínio não pode incluir honorários contratuais de advogado na execução, diz STJ

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o condomínio não pode incluir o valor correspondente...