Defensoria Pública atua desde 2022 em defesa de indígena violentada durante custódia em delegacia do AM

Defensoria Pública atua desde 2022 em defesa de indígena violentada durante custódia em delegacia do AM

A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) realizou 65 atendimentos a reeducanda indígena da etnia Kokama, em Manaus, vítima de múltiplos estupros enquanto esteve custodiada na Delegacia de Polícia de Santo Antônio do Içá, município localizado na região do Alto Solimões. A mulher, identificada pelas iniciais L. S. F., relatou ter sido violentada por ao menos seis policiais e um guarda municipal ao longo de mais de nove meses. Os abusos teriam ocorrido, inclusive, durante o período de resguardo, apenas 20 dias após o parto, e muitas vezes na presença de seu filho recém-nascido.

A denúncia de estupro chegou ao conhecimento da Defensoria em 28 de agosto de 2023, um dia após a transferência da vítima para a Unidade Prisional Feminina de Manaus. Mas a mulher foi presa em 11 de novembro de 2022, por sentença condenatória a 16 anos e 7 meses de reclusão por crime hediondo, ao buscar a delegacia para fazer uma denúncia de violência doméstica. Na ocasião, não houve audiência de custódia, nem comunicação à Defensoria, em violação a garantias fundamentais.

Mesmo sem ter sido formalmente intimada da prisão, o defensor público Murilo Breda, coordenador do Polo do Alto Solimões, que atende o município de Santo Antônio do Içá, reforça que a instituição agiu. “A atuação da Defensoria sempre se pautou por acompanhamento constante e sistemático dos processos envolvendo pessoas custodiadas nas sete cidades da região. Assim que soubemos que havia uma mulher presa com um recém-nascido, protocolamos pedido de prisão domiciliar em dezembro de 2022 e reiteramos esse pedido várias vezes, sem resposta até hoje”.

A indígena inicialmente não denunciou os abusos em Santo Antônio do Içá por medo de represálias. Seus filhos e sua mãe ainda residiam no município, o que aumentava o temor por parte dos agentes denunciados.

Já em Manaus, com a transferência da mulher realizada em agosto de 2023, a Defensoria continuou agindo. De acordo com o coordenador do Núcleo de Atendimento Prisional (NAP), Theo Costa, o atendimento jurídico inicial estava previsto para a semana seguinte, mas foi antecipado após outras internas acionarem a Defensoria diante do estado de extrema debilidade emocional da custodiada, que chorava frequentemente e se recusava a se alimentar. “Diante desse contexto de extrema vulnerabilidade, optamos por conduzir o caso com máxima cautela, zelando pela segurança da vítima e de seus familiares, sem deixar de adotar todas as medidas legais cabíveis”, destaca o defensor público.

Durante o atendimento emergencial, a mulher narrou os abusos que sofreu no interior da delegacia. A gravidade do relato motivou a atuação imediata da Defensoria, que solicitou o encaminhamento da vítima à Delegacia da Mulher. O exame de corpo de delito, realizado no mesmo dia, confirmou a conjunção carnal e a presença de sinais de violência.

Desde então, a Defensoria adotou uma série de medidas para proteger a vítima e garantir sua dignidade, como realização de escuta qualificada com apoio de equipe multidisciplinar e participação de defensor especializado em Direitos Humanos; aplicação de protocolo humanizado para a coleta de depoimento, com perguntas pré-elaboradas e gravação oficial para evitar reiterações traumáticas; encaminhamento a acompanhamento psicológico e médico contínuo e, mais uma vez, pedido à Vara de Execuções Penais para cumprimento de pena em regime domiciliar, bem como a redução do tempo de prisão, com a contagem em dobro do período de cumprimento de pena, como medida compensatória causada pela execução antijurídica da pena, nos termos da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Todos negados.

Fonte: DPE-AM

 

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