O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mandatário norte-americano Donald Trump tiveram, nesta terça-feira (23), um encontro fora da agenda, nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. O gesto abre caminho para uma reunião formal na próxima semana, confirmada pelo Planalto, ainda sem detalhes sobre local e formato.
Contexto político e econômico
A aproximação ocorre em um dos momentos mais delicados das relações bilaterais. Desde maio, a gestão republicana endureceu as medidas contra o Brasil: tarifaço de 50% sobre produtos nacionais, sanções financeiras a autoridades, inclusive ao ministro do STF Alexandre de Moraes e, mais recentemente, à sua esposa, além da suspensão de vistos de integrantes do governo, como o advogado-geral da União Jorge Messias.
O ambiente de tensão não impediu a reação positiva dos mercados: o real valorizou cerca de 1% frente ao dólar, e o índice Bovespa renovou máxima histórica após o anúncio do encontro.
O diálogo
Segundo integrantes da comitiva brasileira, Trump, que assistiu integralmente ao discurso de Lula em sala reservada, tomou a iniciativa de se dirigir ao petista logo após o pronunciamento. Disse que precisavam conversar; Lula respondeu que sempre esteve aberto ao diálogo. O americano sugeriu a próxima semana para a reunião, prontamente aceita.
Em discurso posterior, Trump reforçou o gesto publicamente: afirmou ter tido “excelente química” com o brasileiro. “Eu só faço negócios com pessoas de quem gosto. Gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 30 segundos tivemos uma química excelente. Isso é um bom sinal”, disse.
Antecedentes
Foi a primeira vez que os dois dividiram espaço desde a imposição das sanções. Em abril, ambos estiveram na missa do funeral do papa Francisco, sem contato direto. No G7, em maio, também não houve aproximação, porque Trump antecipou retorno aos EUA.
Significado diplomático
O encontro surpreendeu observadores internacionais, pois Lula havia feito um discurso crítico às ações externas dos Estados Unidos, das sanções a intervenções militares. A investida sinaliza um possível reposicionamento no relacionamento, marcado até agora por distanciamento inédito desde a redemocratização, agravado pelo processo criminal que envolve Jair Bolsonaro, aliado de Trump.
Se a reunião da próxima semana se confirmar, será o primeiro diálogo bilateral formal entre Lula e Trump sob esse novo cenário de tensão diplomática.