Assédio Judicial agravado por assimetria de gênero condena Advogado

Assédio Judicial agravado por assimetria de gênero condena Advogado

Um advogado foi condenado a indenizar uma cliente em R$ 12 mil por assédio judicial em Paraty, no Rio de Janeiro.

A Defensoria Pública do Rio atuou nos dois processos — um criminal e um cível. As decisões se basearam no Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, do Conselho Nacional de Justiça, que orienta magistrados a utilizarem “a lente de gênero, avançando na efetivação da igualdade e nas políticas de equidade”.

As ações criminal e cível foram ajuizadas por um advogado da cidade contra uma britânica que, considerando inadequado o seu comportamento, desistiu de contratá-lo para processo de dissolução de união estável. Ele, então, ingressou nos juizados especiais contra ela.

A queixa-crime, em que o autor alegava ter sido vítima de calúnia e difamação, foi arquivada em junho. O Juizado Especial Adjunto Criminal de Paraty considerou “assimetria de gênero na relação entre as partes”, acentuada pelo fato de a ré “ser inglesa e não ter o domínio da língua portuguesa”.

A sentença destaca que foi acolhido “o pleito da defesa sob uma perspectiva de gênero, para a redução da desigualdade existente em nossa sociedade”.  A Defensoria alegou, em favor da mulher, que “os fatos narrados na inicial não constituem qualquer delito. Tratou-se, unicamente, da tentativa da querelada – que sequer se comunica com habilidade na língua portuguesa – de dizer que deseja se libertar de uma relação abusiva”.

Na ação indenizatória ingressada pelo advogado junto ao Juizado Especial Adjunto Cível de Paraty, a Defensoria conseguiu reverter o pedido, garantindo que o autor pague à britânica R$ 12 mil a título de danos morais, conforme decisão homologada também em junho.

A defensora Renata Jardim da Cunha Rieger, que atuou nos dois processos, explica que no caso em questão, houve claramente perseguição, intimidação e constrangimento impostos à vítima que, embora não seja vulnerável financeiramente, é mulher e não fala nosso idioma, o que configura outras vulnerabilidades. “Trata-se de assédio processual, numa situação em que cabe perfeitamente o que preconiza o CNJ”, resume.

A subcoordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria, defensora pública Matilde Alonso, reitera a relevância da perspectiva de gênero ser considerada nas decisões judiciais. “É essencial que magistradas e magistrados estejam atentos à presença de estereótipos e adotem uma postura ativa em sua desconstrução. O protocolo é um excelente guia nesse sentido, devendo ser utilizado por todas e todos operadoras e operadores do direito”, sustenta.

Nos dois processos, a Defensoria solicitou apoio de intérprete inglês-português e assistência consular. A mulher havia procurado o advogado para ingressar com ação de dissolução de união estável firmada em território brasileiro. Com informações da assessoria de imprensa da Defensoria Pública do Rio.

 

Leia mais

Sem consulta aos povos indígenas, obras como a BR-319 violam a lei, diz MPF

Consulta prévia é condição de validade para obras que impactem povos indígenas, reafirma Ministério Público Federal ao TRF1. A ausência desse procedimento em projeto...

Justiça condena Município de Manaus por fiscalização ilegal contra cervejaria

Nos termos do art. 89 do Decreto nº 6.871/2009, a fiscalização de indústrias de bebidas alcoólicas é de competência exclusiva do Ministério da Agricultura,...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

Sem consulta aos povos indígenas, obras como a BR-319 violam a lei, diz MPF

Consulta prévia é condição de validade para obras que impactem povos indígenas, reafirma Ministério Público Federal ao TRF1. A...

Justiça rejeita denúncia contra advogada e cita ‘estereótipo de gênero’ da acusação

A assertividade de uma advogada não pode ser descredibilizada e confundida com estereótipos negativos de gênero. A fundamentação é...

STF abre inscrições para vaga de juízes no Conselho Nacional do Ministério Público

Estão abertas as inscrições para concorrer a uma das duas vagas destinada a juízes no Conselho Nacional do Ministério...

Comissão aprova projeto que obriga serviços de saúde a assegurar mamografia a mulheres com deficiência

A Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência aprovou o Projeto de Lei 465/25, que obriga os...