Com a divulgação do prontuário médico do menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, vieram à público detalhes sobre o atendimento realizado no Hospital Santa Júlia, em 22 de novembro, incluindo o registro de que a médica responsável pelo caso, Juliana Brasil Santos, reconheceu ter indicado via incorreta para a administração de adrenalina.
A prescrição eletrônica anexada ao inquérito determinava o uso de adrenalina pura por via intravenosa, e a evolução clínica registra que a via foi “prescrita erroneamente”. Após a aplicação, o prontuário descreve taquicardia, palidez e dificuldade respiratória, levando à transferência imediata para a sala vermelha e ao acionamento da UTI. Veja o documento:
A evolução médica registrada às 17h08 pela pediatra Juliana Brasil descreve os acontecimentos posteriores à administração da adrenalina e documenta que a via endovenosa foi prescrita de forma equivocada. No texto, a médica afirma ter orientado incorretamente a aplicação e relata que a mãe da criança mencionou o uso por nebulização em atendimento anterior.
O documento funciona como descrição da piora clínica observada após a prescrição e constitui a segunda etapa do fluxo do prontuário, complementando o registro inicial da ordem médica. Ele foi anexado ao inquérito e é peça central de reconstrução de eventos que antecederam o óbito do menino, ocorrido no dia 23 de novembro deste ano, nas dependências do hospital Santa Júlia.
Entre os pontos apurados está o depoimento de uma técnica de enfermagem que afirmou ter alertado a colega Raíza Bentes, responsável pela administração, para não aplicar a adrenalina na via intravenosa. Segundo ela, o kit de nebulização habitual para quadros semelhantes teria sido entregue antes da aplicação, mas a orientação não foi acatada. A investigação também analisa informações coletadas durante diligências sobre a ausência de revisão da prescrição por profissional farmacêutico no processo interno de checagem — e ainda dependente de confirmação no inquérito.
O Hospital Santa Júlia mantém a médica afastada e informou ter disponibilizado acesso ao sistema eletrônico para perícia. A médica obteve salvo-conduto do Tribunal de Justiça do Amazonas, que, nesta fase inicial, rejeitou a possibilidade de prisão preventiva e de busca domiciliar, registrando que os elementos disponíveis não são suficientes para atribuir dolo eventual à conduta, pelo menos de início.
Entretanto, segundo o delegado Marcelo Martins, os elementos reunidos até o momento indicam que a investigação deve considerar a sequência de procedimentos adotados no atendimento, cuja avaliação técnica seguirá no âmbito do inquérito. Como afirmou o delegado:
“Percebe-se um erro estrutural, sequencial de protocolos, de cuidados. E aí você vê que o Benício não teve chance. Com certeza, um homicídio.”
A Polícia Civil aguarda laudos periciais e segue ouvindo profissionais para consolidar a cronologia completa dos eventos que culminaram no óbito da criança na madrugada de 23 de novembro.
