Às vésperas da 79ª Assembleia-Geral da ONU, o governo brasileiro decidiu não incluir os Estados Unidos na lista de convidados para a reunião “Democracia Sempre”, marcada para ocorrer em Nova York.
O encontro foi idealizado por Brasil e Espanha no ano passado, quando Washington ainda figurava entre os convidados. Agora, a lista reúne cerca de 30 países, incluindo Uruguai, Colômbia, Chile, Alemanha, França, Canadá, México, Noruega, Senegal, Timor Leste, além da União Europeia e do secretário-geral da ONU, António Guterres.
Segundo interlocutores do Itamaraty, a exclusão dos EUA reflete a avaliação de que não há condições políticas de convidar um país cuja conjuntura interna atravessa uma guinada extremista e cujo governo questiona a democracia brasileira. A decisão é simbólica, já que a cúpula se propõe a debater justamente democracia, combate à desigualdade e enfrentamento da desinformação.
O Palácio do Planalto entende que a presença norte-americana poderia comprometer a credibilidade do fórum, concebido como espaço de compromisso mútuo em defesa de regimes democráticos. A escolha se alinha ao posicionamento assumido por Lula em julho, quando participou da edição chilena do evento e endossou comunicado final que reafirmava a centralidade do multilateralismo e da cooperação internacional para conter fatores que corroem a legitimidade das instituições.
Com a exclusão, o Brasil sinaliza que pretende reforçar o protagonismo do bloco latino-americano e europeu na condução da agenda democrática, afastando países considerados em contradição com os princípios defendidos. O gesto funciona como recado diplomático: a democracia é critério de pertencimento ao espaço, e não apenas um rótulo formal.
Brasil barra EUA de cúpula sobre democracia na ONU
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