A renúncia da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ao mandato foi a saída política encontrada para encerrar o impasse institucional que se formou após a Câmara dos Deputados rejeitar a cassação da parlamentar, em confronto direto com determinação do Supremo Tribunal Federal.
Comunicada neste domingo (14), a decisão foi recebida pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), que anunciou a posse do suplente Adilson Barroso (PL-SP).
A movimentação ocorreu depois de o STF, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, ratificada pela Primeira Turma, ordenar que a Mesa da Câmara declarasse a perda do mandato de Zambelli em razão de condenação criminal transitada em julgado. O plenário, contudo, havia barrado a cassação dias antes, sustentando que caberia ao Legislativo a palavra final, o que agravou a tensão entre os Poderes e expôs Motta ao risco de responsabilização por descumprimento de ordem judicial.
Nos bastidores, a renúncia foi articulada como uma solução de contenção de danos. Ao abdicar do cargo, Zambelli esvazia o objeto da decisão do STF e permite que a Câmara evite um novo enfrentamento institucional. Ao mesmo tempo, o PL preserva o discurso político de que a parlamentar não se submeteu formalmente à ordem da Corte, tratando o gesto como escolha estratégica diante do cenário judicial adverso.
Condenada a dez anos de prisão por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, com auxílio do hacker Walter Delgatti Neto, Zambelli encontra-se presa na Itália, onde aguarda julgamento do pedido de extradição formulado pelo Estado brasileiro.
Caso seja entregue às autoridades nacionais, deverá cumprir pena no sistema penitenciário do Distrito Federal. A renúncia, contudo, não altera os efeitos penais da condenação nem interfere no trâmite do processo de extradição.
Do ponto de vista jurídico, o episódio reforça a interpretação defendida pelo STF de que a perda do mandato parlamentar, em hipóteses de condenação criminal definitiva, constitui efeito automático da sentença, cabendo ao Legislativo apenas declarar a vacância.
Em voto que acompanhou Moraes, o ministro Cristiano Zanin afirmou que a atuação da Mesa deve ter “natureza meramente declaratória”, afastando margem para deliberação política. A solução encontrada agora pela Câmara não resolve o debate de fundo, mas posterga o confronto direto — e sinaliza que, quando o conflito chega ao limite, a saída tende a ser menos jurídica e mais política.
