A escolha do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal reacendeu a tensão entre o Palácio do Planalto e a cúpula do Senado Federal, instância que, na prática, tem sido o eixo de governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início do mandato.
O movimento abriu fissuras políticas em torno de um tema juridicamente sensível: o alcance da prerrogativa presidencial de indicar ministros para a mais alta Corte do país.
A insatisfação foi tornada pública a partir da reação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Ele e parte expressiva dos parlamentares preferiam que o indicado fosse o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo sua assessoria, havia expectativa de que Lula o comunicasse previamente sobre a escolha — o que não ocorreu.
A partir da confirmação do nome de Messias, Alcolumbre sinalizou incômodo: anunciou que levará ao plenário, já na próxima semana, um projeto com potencial impacto bilionário nas contas públicas, relativo à aposentadoria especial de agentes comunitários de saúde e de combate às endemias. O gesto foi interpretado como uma demonstração de força em meio ao desgaste político.
Prerrogativa presidencial versus resistência parlamentar
Embora a Constituição atribua ao presidente da República a prerrogativa de escolha dos ministros do STF, cabe ao Senado exercer o controle político-institucional por meio da sabatina e aprovação do nome. Nesta disputa de forças, Alcolumbre teria indicado que não atuará pela aprovação de Messias, abrindo um cenário de incerteza sobre o placar final.
O advogado-geral, por sua vez, recebeu apoio público do ministro André Mendonça, indicado ao STF por Jair Bolsonaro, que afirmou ajudar Messias na articulação com os senadores. Foi a primeira manifestação aberta de um integrante da Corte em favor da indicação.
Jaques Wagner no centro da turbulência
O episódio reverberou diretamente sobre o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), figura historicamente próxima de Lula e um dos principais defensores da ida de Messias ao Supremo — o próprio AGU já integrou seu gabinete no passado.
A tensão aumentou após Wagner afirmar à imprensa que Alcolumbre havia revelado a Lula a preferência por Pacheco. A declaração irritou o presidente do Senado, que, segundo interlocutores, chegou a evitar atender telefonemas do líder do governo.
A preferência de Lula por Messias, embora conhecida no meio político há semanas, ganhou relevo após encontro, na segunda-feira (17), em que o presidente comunicou pessoalmente a Rodrigo Pacheco que não seria o escolhido.
Um Senado dividido e uma indicação irrenunciável
Nos bastidores, líderes partidários defendem a retomada do nome de Pacheco como alternativa de consenso. Ele é visto como o preferido da maioria da Casa — algo incomum nas disputas ao STF, tradicionalmente marcadas por deferência à vontade presidencial.
Lula, porém, não demonstra disposição para recuar. Para ele, a escolha é prerrogativa constitucional que não pode ser submetida a pressões externas, sob pena de distorcer o desenho institucional entre Executivo e Senado.
A depender da escalada, a indicação de Messias pode se transformar no principal teste político do governo junto ao Senado neste fim de ano legislativo — e um capítulo relevante sobre os limites e tensões da participação do Parlamento na formação da composição do Supremo Tribunal Federal.
