STJ descarta tese de erro sobre idade da vítima e mantém condenação por estupro de criança no Amazonas

STJ descarta tese de erro sobre idade da vítima e mantém condenação por estupro de criança no Amazonas

Na tentativa de reformar a condenação, a defesa sustentou a ocorrência de erro de tipo, argumentando que o réu não sabia que a vítima tinha menos de 14 anos. Contudo, o TJAM já havia reconhecido, com base no conjunto probatório dos autos, que o recorrente tinha pleno conhecimento da idade da vítima — à época, 12 anos.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu manter a condenação de um réu acusado de estupro de vulnerável, ao rejeitar a tese defensiva de erro de tipo — ou seja, a alegação de que o acusado não sabia que a vítima era menor de 14 anos.

A decisão foi proferida pela Sexta Turma no julgamento do Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial n.º 2316987/AM, sob relatoria do Ministro Antonio Saldanha Palheiro.

O Ministro explica que o erro de tipo é uma figura prevista no artigo 20 do Código Penal, que exclui o dolo (intenção de praticar o crime) quando o agente comete o fato por desconhecimento de uma circunstância que compõe o tipo penal. No caso do estupro de vulnerável, o erro de tipo seria o desconhecimento da idade da vítima, essencial para a configuração do crime.

No entanto, para que esse erro seja aceito, ele precisa ser escusável, ou seja, deve haver justificativa plausível para que o agente, mesmo sendo diligente, não pudesse saber a idade real da vítima, definiu Antonio Palheiro. 

Com base no voto do Relator, a Sexta Turma do STJ definiu que, no caso analisado, não havia dúvida quanto à idade da vítima. Segundo o acórdão, o réu tinha plena ciência de que a vítima tinha apenas 12 anos, à época dos fatos. Testemunhos e provas colhidos no processo demonstraram que ele manteve contato com a família da menor e tinha acesso a informações que evidenciavam sua vulnerabilidade etária.

Com isso, o STJ concluiu que a alegação de erro de tipo era manifestamente improcedente e que a tentativa de revisão da condenação esbarrava na vedação ao reexame de fatos e provas em recurso especial, conforme a Súmula 7 do STJ.

A irrelevância do consentimento
O STJ também reforçou a aplicação da Súmula 593 do STJ, segundo a qual o crime de estupro de vulnerável se configura independentemente do consentimento da vítima, de sua experiência sexual anterior ou de eventual relacionamento amoroso com o agente. Isso porque a lei (art. 217-A do Código Penal) presume a violência quando a vítima é menor de 14 anos, tratando-se de uma presunção absoluta, que não admite prova em sentido contrário.

O julgado reafirma a defesa de proteção integral ao interesse de crianças e adolescentes,  conforme previsto na Constituição e no ECA. A decisão confirma que, em casos de estupro de vulnerável, o conhecimento da idade da vítima é essencial, e o consentimento não tem relevância jurídica para afastar a responsabilidade penal do agente.

AgRg no AREsp 2316987 / AM

Leia mais

Comprador assume risco por desgaste de veículo usado, decide Justiça ao negar rescisão no Amazonas

Com posição da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Amazonas, o TJAM decidiu que defeitos decorrentes do desgaste natural de veículo usado...

Sem notificação ao devedor, cessionário não pode assumir ação judicial de cobrança

A ausência de notificação do devedor sobre a cessão de crédito não impede, por si só, que o cessionário exerça atos de cobrança extrajudicial,...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

Comprador assume risco por desgaste de veículo usado, decide Justiça ao negar rescisão no Amazonas

Com posição da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Amazonas, o TJAM decidiu que defeitos decorrentes do...

Sem notificação ao devedor, cessionário não pode assumir ação judicial de cobrança

A ausência de notificação do devedor sobre a cessão de crédito não impede, por si só, que o cessionário...

Eventual descumprimento da tese do ANPP deve ser questionado por habeas corpus, fixa STF

Eventual descumprimento da decisão do STF que pacificou o entendimento de que é cabível, inclusive de forma retroativa e...

Falhas formais em prestação de contas públicas não configuram ato ímprobo, fixa Justiça do Amazonas

Mesmo diante de irregularidades apontadas em sede de apreciação de contas públicas, especialmente quando há julgamento técnico pelo órgão...