Cliente de Banco induzido a erro no aceite do negócio sofre ofensa indenizável, fixa Justiça

Cliente de Banco induzido a erro no aceite do negócio sofre ofensa indenizável, fixa Justiça

O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), por meio de decisão da Segunda Câmara Cível, manteve a condenação de um banco em razão de prática abusiva relacionada à contratação de cartão de crédito consignado, configurando dano moral ao consumidor. A decisão teve como relator o Desembargador Cezar Luiz Bandiera, que destacou a ausência de clareza nas informações fornecidas ao cliente no momento da contratação. Os danos morais foram fixados em R$ 5 mil. 

De acordo com o processo, o consumidor acreditava estar contratando um empréstimo consignado, cujo pagamento ocorreria por meio de parcelas descontadas diretamente em sua folha de pagamento. No entanto, o banco ofereceu um cartão de crédito consignado, que possui sistemática diversa. Conforme apontado na decisão, faltaram informações essenciais sobre a contratação, tais como a forma de pagamento, a obtenção de faturas e os encargos incidentes em caso de não pagamento integral da fatura. Tais omissões induziram o cliente a erro, configurando vício de consentimento.

Ausência de informações completas invalida contrato

O Bmg, em sua defesa, alegou que o contrato foi assinado pelo consumidor e que o Termo de Adesão destacava, de maneira clara, a modalidade de cartão de crédito consignado. Contudo, o Desembargador relator observou que o Termo de Adesão apresentado pela instituição financeira estava desacompanhado da Cédula de Crédito Bancário referente ao primeiro saque, sendo essa documentação imprescindível para comprovar a regularidade da contratação.

Além disso, a instituição deixou de demonstrar que o consumidor havia sido informado de forma inequívoca sobre a sistemática de cobranças e a incidência de juros rotativos no caso de não pagamento integral da fatura. O relator concluiu que essa omissão gerou uma situação de desvantagem exagerada ao cliente, configurando prática abusiva vedada pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Vício de consentimento e prejuízos ao consumidor

A decisão do tribunal enfatizou que as informações fornecidas ao consumidor devem ser claras, objetivas e redigidas em linguagem de fácil compreensão, conforme determinações do CDC. A falta de transparência quanto à forma de cobrança resultou na perpetuação de uma dívida que gerou lucros exorbitantes à instituição financeira e prejuízos significativos ao cliente.

O relator destacou que houve indução ao erro, porquanto o cliente aderiu a um contrato de cartão de crédito acreditando estar celebrando um empréstimo consignado. Essa discrepância entre a intenção do consumidor e o produto efetivamente contratado violou os princípios da boa-fé e da transparência exigidos nas relações de consumo.

Indenização por danos morais

Diante das irregularidades constatadas, o tribunal considerou válida a indenização por danos morais, entendendo que o erro de interpretação do consumidor foi causado pela fragilidade das informações prestadas pelo banco. A instituição financeira foi responsabilizada pelas consequências do vício de consentimento, sendo dispensável a comprovação de culpa direta.

Essa decisão reforça a importância do cumprimento dos direitos do consumidor e a necessidade de maior rigor por parte das instituições financeiras na elaboração de contratos, garantindo clareza e compreensão plena das condições impostas.  

Processo n. 0532178-17.2024.8.04.0001  
Classe/Assunto: Apelação Cível / Repetição de indébito
Relator(a): Cezar Luiz Bandiera
Comarca: Manaus
Órgão julgador: Segunda Câmara Cível
Data do julgamento: 07/01/2025
Data de publicação: 07/01/2025

Leia mais

STJ concede habeas corpus a réu condenado por estupro no Amazonas por omissão em julgamento de recurso

Corte reconheceu omissão do TJAM ao deixar de analisar fundamentos da defesa em embargos de declaração, como cerceamento de testemunhas e valoração da prova....

Comprovação de requisitos legais garante posse a comprador de imóvel leiloado pela Caixa

Após enfrentar resistência dos ocupantes, comprador que comprovou todos os requisitos legais da arrematação em leilão da Caixa tem posse do imóvel garantida pela...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

Comissão aprova alerta em bulas e embalagens sobre descarte correto de remédios

A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que exige que embalagens e bulas de...

Justiça reconhece discriminação em demissão após opinião sobre conflito no Oriente Médio

A 15ª Vara do Trabalho de São Paulo-SP condenou empresa de tecnologia a pagar indenização por danos morais no...

STF decide que PIS/Cofins integram base de cálculo da contribuição previdenciária sobre receita bruta

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que é válida a inclusão dos valores relativos ao PIS e à Cofins...

Consumidora que pagou R$ 262 por 3 iPhones perde ação na Justiça

Uma moradora da Capital acreditou ter encontrado uma oferta irresistível: três iPhones por apenas R$ 262,35 — o equivalente...