Defensoria propõe reformas para garantir direitos de mulheres presas e evitar novas violações

Defensoria propõe reformas para garantir direitos de mulheres presas e evitar novas violações

Após caso da indígena Kokama vítima de estupro em delegacia no interior do Amazonas, a Defensoria reforça a necessidade de ações estruturantes para garantir direitos fundamentais no sistema penal

A Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) enviou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) um extenso relatório solicitando suporte para implementação de sugestões de melhorias estruturais para coibir novas violações de direitos humanos de mulheres privadas de liberdade. A manifestação formal é resposta ao ofício da Secretaria de Acesso à Justiça do MJSP, que se colocou à disposição para articulações institucionais diante do caso da indígena violentada sexualmente em uma delegacia no município de Santo Antônio do Içá.

A Defensoria recomenda a adoção obrigatória de protocolos de escuta humanizada, inclusive com profissionais especializados e presença da DPE em todas as oitivas, como forma de evitar a revitimização e a violência institucional, crime previsto pela Lei nº 14.321/2022. A instituição destaca que procedimentos repetitivos e desnecessários podem agravar o sofrimento de vítimas de crimes violentos, especialmente quando se trata de mulheres indígenas ou em situação de vulnerabilidade social extrema.

Entre os pontos levantados, estão a obrigatoriedade de notificação prévia à DPE em toda nova oitiva da vítima; adoção do depoimento especial com acompanhamento de equipe multidisciplinar; garantia de escuta em ambiente seguro e acolhedor e proibição de oitivas múltiplas que levem a vítima a reviver a violência sem necessidade jurídica.

Proposta de expansão do atendimento defensorial
A DPE-AM também sugeriu ao MJSP a expansão do modelo do Núcleo de Atendimento Prisional para o interior do estado, a exemplo do que já funciona em Manaus. A proposta inclui o aditamento do Convênio nº 931600/2022, atualmente financiado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Sennapen), que se encerra em setembro de 2025. Para isso, foi solicitado o acréscimo de R$ 2,8 milhões no projeto e sua prorrogação por mais 32 meses.

A Defensoria argumenta que o fortalecimento do núcleo não apenas melhora a assistência jurídica, mas previne rebeliões e outras crises prisionais, além de cumprir metas do Plano Nacional “Pena Justa”, como a presença regular da Defensoria em todas as comarcas e unidades prisionais.

Apoio do CNJ e reforço orçamentário
A manifestação cita diretamente a Recomendação n.º 47 do CNJ, que orienta o Governo do Estado e a Assembleia Legislativa a ampliarem o número de defensores públicos, sobretudo na área penal e em audiências de custódia. O documento também menciona o Acórdão nº 763/2024 do TCE-AM, que reforça a necessidade de fortalecer a estrutura financeira da Defensoria Pública para possibilitar esses investimentos.

A DPE-AM calcula que seriam necessários pelo menos R$ 13,5 milhões adicionais por ano para viabilizar o atendimento em todas as unidades prisionais do Amazonas, com a nomeação de defensores, analistas e residentes jurídicos.

Crítica ao modelo de advogados dativos
A manifestação também critica o modelo de nomeações de advogados dativos para atuar nas unidades prisionais, considerado ineficiente e arriscado. Segundo a Defensoria, os dativos só atuam de forma pontual e processual, sem capacidade de fiscalização das unidades prisionais ou de prevenir torturas e violações de direitos. Além disso, relatórios da CGU e do MP apontam risco de corrupção nesse modelo, antes vigente no estado.

“Não se trata apenas de garantir um advogado. Trata-se de garantir a presença permanente de uma instituição constitucionalmente vocacionada a proteger os mais vulneráveis dentro do sistema penal”, diz a manifestação.

Por fim, a Defensoria cobra mais transparência sobre os custos das unidades prisionais cogestionadas por empresas privadas. A manifestação denuncia que, mesmo com um gasto estimado de R$ 3,5 bilhões em contratos com empresas gestoras, a SEAP não implementou mecanismos de cálculo do custo individual por preso, descumprindo recomendação do TCE/AM desde 2018.

Fonte: Comunicação Social da DPE-AM

Leia mais

Unidade móvel da Justiça Itinerante atende na Delegacia da Mulher do Parque Dez, em Manaus

Em alusão aos 19 anos da Lei Maria da Penha, celebrados no próximo dia 7 de agosto, o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM)...

CGJ-AM lança cartilha com orientações para enfrentamento da litigância abusiva

A Corregedoria-Geral de Justiça do Amazonas (CGJ-AM) lançou esta semana uma cartilha com orientações para o enfrentamento da litigância abusiva. A publicação faz parte...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

Unidade móvel da Justiça Itinerante atende na Delegacia da Mulher do Parque Dez, em Manaus

Em alusão aos 19 anos da Lei Maria da Penha, celebrados no próximo dia 7 de agosto, o Tribunal...

Justiça suspende atividades de mineradora por extração ilegal de diamantes no Amazonas

A pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal suspendeu as atividades da empresa MHX Serviços de Mineração...

STJ divulga lista de expositores da audiência que discutirá cobertura de bomba de insulina por plano de saúde

O ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), divulgou o quadro de habilitados para participar...

CCJ começa análise de 13 indicações para Judiciário e CNMP nesta quarta

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) receberá nesta quarta-feira (6), a partir de 9h, os relatórios sobre indicações...