Aldeia Guarani, em São Paulo, rompe isolamento por determinação da Justiça

Aldeia Guarani, em São Paulo, rompe isolamento por determinação da Justiça

 A Justiça Federal determinou a abertura de passagem forçada em uma propriedade particular para garantir a uma comunidade da etnia M”Bya Guarani de Ubatuba (SP) o acesso à rodovia BR-101. A decisão também tem fundamento em  parecer favorável enviado pelo Ministério Público Federal, em ação da Defensoria Pública da União (DPU) para romper o isolamento da aldeia Yacã Porã, localizada na zona rural do município paulista. Sem ligação com áreas externas, em razão da destruição de uma ponte, há mais de três anos, os indígenas estão desprovidos de serviços públicos e correm riscos devido às fortes chuvas que vêm castigando a região.

A passagem forçada deverá garantir o acesso ao grupo até que uma ponte seja concluída sobre o Rio Itamambuca. Único caminho para entrada e saída na terra indígena, a via elevada está em reconstrução após ter desabado, em virtude das cheias do rio, em 2019. As obras realizadas pelo município de Ubatuba, como fruto de articulação feita pelo MPF, já estão em fase adiantada, mas tiveram de ser interrompidas depois dos temporais que atingiram o litoral norte de São Paulo no mês passado.

No parecer apresentado à Justiça, o MPF destacou a gravidade da situação e a urgência de uma solução, ainda que provisória. Isolada, a aldeia Yacã Porã está sem atendimento de serviços básicos de saúde, entrega de água e alimentos e contato com servidores de órgãos que acompanham os indígenas e prestam auxílio à comunidade, como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o próprio Ministério Público e a Justiça Federal.

“A necessidade de garantir a via de acesso requerida na presente ação vai muito além de ‘mera comodidade’ para que os indígenas possam continuar exercendo suas tarefas particulares, sociais e/ou econômicas. Trata-se de verdadeiro direito constitucional de acesso ao seu território e às políticas públicas que nele deveriam estar sendo desenvolvidas, e que deixam de ser adequadamente executadas dado o isolamento físico forçado da aldeia”, ressaltou a procuradora da República Maria Rezende Capucci, autora da manifestação.

Na liminar, a 1ª Vara Federal de Caraguatatuba, responsável pela área, acolheu os argumentos do MPF e frisou o predomínio dos direitos indígenas ao ordenar a abertura do acesso temporário em uma área privada. A Justiça entendeu que o MPF trouxe fatos novos ao caso, que justificam a concessão da liminar, como o estágio avançado da construção de nova ponte pela prefeitura e os riscos à população indígena decorrentes das fortes chuvas na região.

“A propriedade particular deve cumprir sua função social. A passagem forçada provisória, em reverência ao interesse público sobre o privado e à supremacia do interesse público, na defesa da população indígena, deriva da prevalência do direito à vida e saúde destas populações, frente à indisponibilidade da propriedade”, diz trecho da decisão.

Leia mais

CNJ pune juíza do Amazonas com disponibilidade por demora excessiva em processos de família

Por unanimidade, o Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu aplicar a pena de disponibilidade à juíza Cleonice Fernandes de Menezes Trigueiro, do...

Justiça anula contrato efetuado com fraude digital e condena Bradesco a indenizar no Amazonas

Na sentença, o Juiz Manuel Amaro de Lima reconheceu que, embora a fraude tenha sido viabilizada pela atuação de terceiros, houve falha na prestação...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

TST valida prefixação de horas extras de marítimos do Pará

A Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC) do Tribunal Superior do Trabalho rejeitou recurso do Ministério Público do Trabalho...

Projeto aumenta pena para feminicídio cometido contra a própria mãe

O Projeto de Lei 908/25 aumenta em 1/3 a pena para o crime de feminicídio ser for praticado contra...

Justiça condena empresa que vendeu petisco para cães contaminado com insetos

A responsabilidade pela contaminação de produtos alimentícios — como petiscos para cães — é do fabricante. Com esse entendimento,...

AGU convida defensorias públicas a se unirem na defesa de aposentados e pensionistas

A Advocacia-Geral da União (AGU) reuniu-se, em Brasília(DF), com representantes da Defensoria Pública da União (DPU) e das defensorias...